ATA DA QUADRAGÉSIMA QUARTA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 21.11.1991.

 


Aos vinte e um dias do mês de novembro do ano de mil novecentos e noventa e um reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Quadragésima Quarta Sessão Solene da Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada a conceder o Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor Adaucto Porto Vasconcelos, concedido através do Projeto de Resolução nº 39/91 (Processo nº 2400/91), da Mesa Diretora. Às dezessete horas e vinte e um minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos, convidando os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Antonio Hohlfeldt, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Senhor Olívio Dutra, Prefeito Municipal de Porto Alegre; Senhor Tarso Genro, Vice-Prefeito Municipal de Porto Alegre; Deputado Estadual Flávio Koutzii; Senhor Antonio Carlos Porto, representando a Associação Riograndense de Imprensa; Senhor Adaucto Porto Vasconcelos, Homenageado; Senhora Jane Gonçalves Vasconcelos, Esposa do Homenageado; e Vereador Wilson Santos, 2º Secretário. Em continuidade, o Senhor Presidente manifestou-se acerca do evento e concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Wilson Santos, em nome da Bancada do PL, discorreu acerca das funções do Homenageado, afirmando ser o mesmo o vitorioso, o conquistador desse Título Honorífico, pela importância vital de seu trabalho à Cidade de Porto Alegre. A seguir, o Senhor Presidente registrou as presenças, no Plenário, dos Filhos do Homenageado: Paulo, Laura Maria e Vera Lúcia, e dos Netos: Bruno e Luíza; dos Senhores Hilário Pinha, Presidente da Regional do Partido Comunista Brasileiro; Hélio Corbellini, Secretário do Governo Municipal; João Carlos Vasconcelos, Secretário do Planejamento Municipal; João Carlos Buchabqui, Secretário Municipal de Administração; Luiz Pilla Vares, Secretário Municipal da Cultura; João Acir Verle, Secretário Municipal da Fazenda; Newton Burmeister, Secretário Municipal de Obras e Viação; Luís Vianna Moraes, Secretário Municipal de Produção, Indústria e Comércio; Guilherme Toledo Barbosa, Diretor Geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos; José Carlos Mello D’Ávila, Diretor-Presidente da Empresa Porto-Alegrense de Turismo; Selvino Heck, Presidente do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores; e da Senhora Lires Marques, Diretora Geral do Departamento Municipal de Habitação. O Vereador Airto Ferronato, em nome da Bancada do PMDB, teceu comentários sobre a homenagem de reconhecimento desta Casa ao Senhor Adaucto Porto Vasconcelos e, que, apesar das divergências existentes entre o Legislativo e o Executivo, é através desse porta-voz que ambas as Casas chegam a um consenso pluripartidário. O Vereador Clóvis Ilgenfritz, em nome da Bancada do PT, comentou a vida do Homenageado ressaltando sua importância na comunicação e na política. Disse, ainda, que o mesmo batalhou como muitos pela nossa Cidade, porém poucos transmitem essa extrema e sutil arte de ser radical, sensível e conhecer a alma humana. O Vereador João Dib, em nome da Bancada do PDS, disse ser importante a função do “embaixador” neste Legislativo, afirmando que a diplomacia do Homenageado, muitas vezes, foi a razão de acontecer ou deixar de acontecer neste Plenário, como representante do Governo Municipal. O Vereador Lauro Hagemann, pronunciou-se sobre a atuação do Homenageado, afirmando ser muito útil à vida desta Cidade. Disse, ainda, que são necessários homens como Adaucto Porto Vasconcelos para mediar a vida, que é a síntese do trabalho do jornalista. O Vereador Ervino Besson, em nome da Bancada do PDT, teceu considerações sobre a solenidade, dizendo que todos aprendem alguma coisa com o Senhor “embaixador”. Discorreu acerca dos serviços prestados à Cidade e sobre a saúde do Homenageado. O Vereador José Valdir, fez trova improvisada lembrando passagens da vida do Homenageado. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para assistir apresentação, feita por Cristina Dornelles, do Teatro de Bonecos, de réplica do Senhor Adaucto Porto Vasconcelos. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Prefeito Municipal, que falou sobre a solenidade prestada pela Casa, ressaltando a importância das relações entre o Executivo e o Legislativo, afirmando que o homenageado possui o elo perfeito para aproximar os dois Poderes. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para assistirem, em pé, a entrega do Diploma de Cidadão Emérito ao Senhor Adaucto Porto Vasconcelos, pelo Senhor Olívio Dutra, Prefeito Municipal, assim como os a entrega de lembranças ao Homenageado, pelos Vereadores João Dib e Lauro Hagemann, bem como à entrega de recordações ao Homenageado, pelas Diretoras Geral e Legislativa e, pelo Vice-Prefeito Municipal, Tarso Genro, à entrega de flores à Esposa do Senhor Adaucto Porto Vasconcelos. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Homenageado que agradeceu a solenidade e a presença de todos, reportando-se sobre o convívio, ao longo dos anos, com os funcionários do Legislativo e do Executivo, passando a contar episódios importantes, dramáticos e pitorescos na história de nosso País que viveu como jornalista, operário e cidadão. Após, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezenove horas e dezesseis minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Antonio Hohlfeldt e secretariados pelo Vereador Wilson Santos. Do que eu, Wilson Santos, 2º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Antonio Hohlfeldt): Estão abertos os trabalhos da 44ª Sessão Solene, destinada a conceder o Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Adaucto Porto Vasconcelos, conforme o Proc. nº 2400/91, firmado pela Mesa Diretora da Câmara Municipal de Porto Alegre e pelas Lideranças da Casa.

Compõem a Mesa, além desta Presidência, o Prefeito Municipal de Porto Alegre, companheiro Olívio Dutra; o Sr. Vice-Prefeito Tarso Genro; o Homenageado companheiro Adaucto Porto Vasconcelos; sua esposa Jane Gonçalves Vasconcelos; o companheiro jornalista Antônio Carlos Porto, na representação da Associação Riograndense de Imprensa e do seu Presidente.

Integram, como extensão da Mesa, entre outros convidados e autoridades aqui presentes, Paulo Adaucto, Laura Maria e Vera Lúcia, filhos do Homenageado; Bruno e Luíza, netos do Homenageado; companheiro Hilário Pinha, Presidente da Regional do Partido Comunista Brasileiro; Vereadores Vieira da Cunha, Mario Fraga, Wilson Santos, Isaac Ainhorn, Airto Ferronato, João Dib, Gert Schinke, Giovani Gregol, Clovis Ilgenfritz, Adroaldo Corrêa, Ervino Besson, dentre outros que inicialmente registramos; integrantes do secretariado, companheiro Secretário do Governo Municipal, Hélio Corbellini; Secretário do Planejamento Municipal, João Carlos Vasconcelos; Secretário Municipal de Administração, João Carlos Buchabqui; Secretário Municipal da Cultura, Luiz Pilla Vares; Secretário Municipal da Fazenda, João Acir Verle; Secretário Municipal de Obras e Viação, Newton Burmeister; Secretário Municipal de Produção, Indústria e Comércio, Luís Vianna Moraes; Diretor-Geral do DMAE, Dr. Guilherme Toledo Barbosa; companheira Diretora do DEMHAB, Drª Lires Marques; companheiro José Carlos Mello D’Ávila, Diretor-Presidente da EPATUR; Presidente do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores, companheiro e ex-Deputado Estadual Selvino Heck.

Srs. Vereadores, Sr. Prefeito Municipal, prezado companheiro Adaucto Vasconcelos, minhas Senhoras e meus Senhores, a proposta apresentada pela Mesa Diretora do Título de Cidadão Emérito ao companheiro Adaucto Vasconcelos buscou apenas refletir aquilo que se estabeleceu ao longo de mais de quatro anos de convívio com o Adaucto nesta Casa. Primeiro, em nome do Prefeito Alceu Collares e, depois, ao longo de toda a administração do Prefeito Olívio Dutra, o companheiro Adaucto soube granjear não apenas o respeito, mas também o carinho e a simpatia absoluta de todos que com ele trabalhamos nesta Casa. Não apenas os Vereadores, mas também os funcionários desta Câmara Municipal, boa parte dos quais, inclusive, encontra-se hoje aqui, nutrem pelo Adaucto profunda simpatia e têm com ele relações as mais cordiais no desempenho do seu trabalho.

Sabemos que essa tarefa do Adaucto não é fácil e às vezes pode até granjear antipatias. Fazer o contato de um lado com o outro, das duas Casas, dos dois Poderes, é difícil, e é mais difícil ainda quando a pessoa nem sempre tem a facilidade de uma maioria de Plenário. Acho que isso é o que o Adaucto tem conseguido construir ao longo do tempo, seja com o Prefeito Collares, seja com o Prefeito Olívio Dutra. Nem um nem outro tinha a maioria de Plenário, mas um e outro acabaram tendo, na maioria das vezes, essa maioria construída exatamente pelo trabalho do Adaucto Vasconcelos. E é por isso, e não por um acaso, que esta Sessão, hoje, é verdadeiramente uma Sessão Solene.

Teremos, também, vários pronunciamentos, o que não é muito comum nas nossas Sessões. Temos previstos os pronunciamentos do Ver. Wilson Santos, pela Bancada do PL; do Ver. Airto Ferronato, pela Bancada do PMDB; do Ver. Clovis Ilgenfritz, pela Bancada do PT; do Ver. João Dib, pela Bancada do PDS; do Ver. Luiz Braz, pela Bancada do PTB; do Ver. Lauro Hagemann, pela Bancada do PCB; do Ver. Artur Zanella, pela Bancada do PFL; e do Ver. Ervino Besson, pela Bancada do PDT. Todas as Bancadas terão seus pronunciamentos específicos, o que demonstra com clareza, independente das posições partidárias, das nossas disputas naturais no Plenário desta Casa, que todas as Bancadas querem manifestar-se a respeito do nosso companheiro que está sendo homenageado nesta data.

Sinto-me muito satisfeito, com Presidente desta Casa, não só por toda a relação que temos pessoalmente, mas também porque é um companheiro profissional da imprensa, como eu, que tem essa tarefa e que hoje aqui se homenageia. Permito-me, até porque tem o meu representante da Presidência da ARI aqui, que é o Antonio Carlos Porto, dizer da importância, também, dos nossos companheiros de imprensa no dia-a-dia desta Casa. Acho que se estende, também, um pouco a eles esta homenagem, nesta data especial.

Nós temos prevista, depois, igualmente, a manifestação do Sr. Prefeito Municipal, antes da formalidade da entrega desse Título que a nossa Câmara previu ao companheiro Adaucto.

Iniciando os nossos pronunciamentos, convidamos o Ver. Wilson Santos a ocupar a tribuna.

 

O SR. WILSON SANTOS: Exmo Ver. Antonio Hohlfeldt, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Srª Jane Vasconcelos, esposa do Homenageado, Jornalista Antonio Carlos Porto, representando a ARI, demais autoridades municipais, Srs. Vereadores presentes nesta Sessão, eu tenho absoluta convicção de que este momento se reveste de grande importância para a Cidade de Porto Alegre como um todo. E vou preferir me inserir na linha metafórica.

Eu diria o seguinte, meu querido Homenageado, Adaucto Porto Vasconcelos: o mestre apanhou o mapa do mundo nas mãos, rasgou-o em vários pedaços e desafiou a platéia para ver quem, no mais breve tempo possível, reconstituiria aquele mapa do mundo. Para surpresa do mestre, um menino levantou a mão e pediu os pedaços do mapa. O mestre entregou, ele saiu e em poucos segundos entregou o mapa reconstituído. E o mestre, surpreso, quis saber a fórmula pela qual aquele menino havia reconstituído o mundo de forma tão rápida. E o menino disse: “Mestre, no momento em que o Senhor rasgava o mapa do mundo, pude ver que nas costas do mapa estava a figura de um homem; eu reconstituí o homem e, conseqüentemente, reconstituí o mundo”.

No momento em que o homem estiver reconstituído na sua essência, especialmente na sua estrutura ética e moral, o mundo estará certo. E os homens, para estarem certos e reconstituírem este mundo correto, terão certamente que se espelhar no exemplo que hoje estamos homenageando. Tu, Adaucto, não pediste este Título, não reivindicaste: tu conquistaste, porque amealhaste todos os méritos, empilhaste um a um pelo trabalho árduo que praticas nesta Casa, com uma importância vital para a Cidade, e o reconhecimento da unanimidade dos representantes nesta Casa.

Quando encaminhei e discuti o Projeto, disse e avoquei palavras do maior poeta popular que conheci, e tive oportunidade de conhecê-lo na Praia de Cidreira, e ele disse: “Me dêem as flores em vida, o carinho, a mão amiga para suportar os meus ais. Depois que eu me chamar saudade, não preciso de vaidade: quero preces e nada mais”. Como é bom, em vida, dizer cara a cara, olho no olho, que tu mereceste porque tu és grandioso. A tua olímpica figura fez com que, por unanimidade, te entreguemos este Título. Meus parabéns. E posso dizer: Adaucto Porto Alegre Vasconcelos. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Ver. Airto Ferronato, em nome da Bancada do PMDB.

 

O SR. AIRTO FERRONATO: Exmo Sr. Ver. Antonio Hohlfeldt, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Exmo Sr. Adaucto Porto Vasconcelos, nosso Homenageado; Exma Srª Jane Vasconcelos, esposa do Homenageado, familiares e amigos do nosso Homenageado Adaucto aqui presentes, autoridades, Srs. Vereadores, Senhoras e Senhores. Caro amigo Adaucto, eu tomei hoje a iniciativa de não escrever nada e dizer aquilo que a minha alma entendia que era de dizer. Confesso-te, Adaucto, que me arrependi bastante, até, dada a minha sensibilidade, o estado emotivo em que me encontro neste momento. Entendo que homenagear o Adaucto é homenagear Porto Alegre, é homenagear o nosso povo e é, também, homenagear o nosso Alto Taquari.

Quero, inicialmente, trazer aqui a minha homenagem, os meus cumprimentos, cumprimentos do meu gabinete, a homenagem do nosso reconhecimento, da Bancada do PMDB, através dos Vereadores Clóvis Brum e João Bosco, dos nossos funcionários de gabinete, e dizer que a Câmara Municipal, por ser a Casa política do Município, ela é e deve ser a Casa dos debates, das divergências de idéias e posições. Mas ela tem se caracterizado por uma convergência tanto dos Vereadores quanto dos funcionários e de todas as pessoas que por aqui chegam, e este ponto de encontro é, sem nenhuma dúvida, o nosso “Embaixador”, o nosso Homenageado, o Adaucto. E eu, que saí lá do interior de Arvorezinha, Linha 5ª de Arvorezinha, e fui estudar na cidade, no Município de Arvorezinha, lembro-me muito bem de quando cheguei à cidade, para mim foi uma coisa extraordinária sair da colônia e morar na Cidade Arvorezinha. Cidade em torno, na época, de 3 a 4 mil pessoas, lembro a forma como se tratavam aquelas que moravam na cidade, como viam aquelas pessoas que vinham do interior, aquele sentimento de superioridade que tinham aqueles da cidade em relação a nós, lá da colônia. E nós fomos convivendo, fomos estudando, analisando os fatos, e o destino quis que quatro anos depois eu saísse lá do interior, de Arvorezinha, para vir a Porto Alegre. E lembro muito bem de como era interessante para nós, lá da colônia, enxergar Porto Alegre de perto, a reação que aquilo nos trazia, dadas as diferenças extraordinárias. Sair de um lugar onde não tínhamos luz, não tínhamos telefone, não tínhamos automóvel – e não tinha automóvel em lugar nenhum naquela região –, sair de lá e vir a Porto Alegre. E eu passei a entender, meu caro Adaucto, que a vida a cada dia nos ensinava mais.

Então, passei a entender da necessidade que tínhamos de escutar, de ouvir as pessoas que, por sua formação, por sua visão, pela sua participação social, política, econômica, traziam para nós alguma força interior que nos movia. E aprendi, também, que a partir desse espelhamento, dessa visão, acompanhando de perto aquelas pessoas com quem nós nos relacionávamos, com quem nós nos afinávamos melhor, nós tínhamos que crescer, e aquilo só nos fazia crescer a cada dia, cada vez mais crescer espiritualmente, crescer culturalmente e entender que a vida tem que ser um eterno crescer. E esta é a minha visão, nós temos que crescer.

Quando eu entrei aqui, assumi como Vereador de Porto Alegre, também eu cheguei da mesma forma que sempre fiz, analisando, ouvindo, aprendendo, e quero deixar aqui um registro que acho oportuno, neste momento, que aprendi com todos muito, mas que, sem nenhuma dúvida, o meu grande pai, o meu grande irmão, o meu grande amigo em termos de conhecimento, de ouvir. Por quê? Porque nos ensina a esperança, o amor, a fé, a caridade, a lutar por aqueles que precisam que lutemos por eles. Uma pessoa que nos fez aproximar é, sem dúvida nenhuma para mim, “Embaixador”, meu pai Adaucto, a figura homenageada de hoje.

Por isso, eu estou aqui e quero trazer o meu abraço todo especial a ti, Adaucto, a teus familiares, e tenho certeza de que esta homenagem, hoje, é a homenagem que a Casa, os funcionários, os Partidos – falo em nome do PMDB – trazem a alguém que tem ensinado, e entendo que esses ensinamentos são para nós um fortificante  que nos anima a lutar cada vez mais por esta Porto Alegre tão complicada, tão difícil, onde temos enormes problemas a resolver. Nos dá uma injeção de ânimo, no sentido de continuarmos a nossa luta para vermos se conseguimos alcançar aquilo que nós sonhamos, que é um mundo mais feliz para todos. Obrigado, e mais um abraço a ti, mais uma vez.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Clovis Ilgenfritz, que falará em nome pela Bancada do PT.

 

O SR. CLOVIS ILGENFRITZ: Sr. Presidente, caro companheiro Olívio Dutra, Exma Srª Jane Gonçalves Vasconcelos, esposa do Homenageado, Jornalista Antonio Carlos Porto, representando a ARI, filhos, parentes e amigos do Homenageado, meu amigo e mestre Adaucto Porto Vasconcelos, diferente do Ferronato, eu, para não ser traído pela emoção, escrevi. Nunca fiz isso, mas vou fazer pela primeira vez.

“Há 63 anos, quase, porque vai completar dia 28 deste mês, Adaucto nasceu na Cidade de Estrela, e sua estrela está brilhando aqui, conosco do PT, mas tem uma vida de relações carinhosas com Porto Alegre.

Nasceu em Estrela, mas tem toda uma vida de relações carinhosas com Porto Alegre. Trabalha desde os 17 anos como jornalista, são 46 anos de profissão. Cobriu, como repórter político, a Constituinte do Rio Grande do Sul em 1947 e 1948, e desde então tem morado em Porto Alegre.

Sua vida sempre esteve ligada a duas coisas: a comunicação e a política. A política sempre esteve presente em sua vida, e de uma forma especial e determinada, a escolha de sua dedicação é o povo, a causa popular. Após 1948, trabalhou em diversos jornais de Porto Alegre, até chegar ao jornal Última Hora, em 1959. Em 1948, começa uma relação amorosa com Porto Alegre, com a Cidade, com o seu povo e com os amigos e familiares. Se forma o triângulo amoroso Comunicação-Política-Povo-Causas Populares-Porto Alegre.

Na “Última Hora”, foi responsável pela página de Cidade do jornal, então o maior jornal da Cidade. Nessa coluna, fazia um noticiário geral sobre as secretarias e uma coluna sobre a Câmara Municipal. Tinha também uma coluna chamada Cidade Aflita, onde discorria sobre as reivindicações populares e os problemas da Cidade, já preocupado com a expressão das necessidades populares do povo a quem ele tanto dedicou. Desde então, já fica claro o seu envolvimento amoroso.

Adaucto é a comunicação como instrumento, para uma cidade melhor, para um mundo melhor. A graça e a simpatia são uma marca, a sua marca bonita, o seu humor fino, de uma pessoa experiente. Mas a seriedade e a radicalidade são a marca mais importante e significativa; o seu engajamento político o prova. Ele, como Jornalista, mostrou a Cidade à mesma, fez ela refletir sobre si mesma; em suma, conscientizar-se.

Mas o grande valor de pessoas como ele é que essas pessoas refundam alguns valores, dão sentido mais profundo e nitidez a alguns conceitos. Assim, ele refundou o conceito de amizade e solidariedade política, e esperamos que ele colha todo o carinho que ele semeou ao longo de sua vida. Parabéns, “Embaixador”. Parabéns, Cidadão Emérito de Porto Alegre. Falo em nome da Bancada e dos assessores dos Vereadores. Falo, sobretudo, em nome dos teus discípulos.” Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. João Dib.

 

O SR. JOÃO DIB: Diz o protocolo que eu devo iniciar a minha fala dizendo “Sr. Presidente”, e eu o faço: Sr. Presidente. E aqui termina todo o protocolo, para mim, porque vou usar de irreverência, irreverência cheia de carinho, respeito, solidariedade e amizade àquele que é meu amigo e que é amigo de todos nós, que é o nosso querido “Embaixador”, um título que eu tive o prazer de lhe outorgar e ver que todos os Vereadores aceitaram o título, e às vezes esquecem, chamam o “Embaixador”, mas não só os Vereadores, mas também os nossos gabinetes, às vezes, procuram o “Embaixador”, porque, realmente, ele soube conquistar a simpatia e o respeito de cada um de nós.

O meu caro “Embaixador” sabe muito bem as minhas restrições à outorga de títulos por esta Casa, e toda a Casa conhece a minha posição, mas por certo nenhuma vez eu estive tão tranqüilo. E até irreverente fui, pois não citei o nosso Prefeito e o nosso Vice-Prefeito, porque todos que estão aqui são teus amigos, meu caro Adaucto. Por certo, hoje eu estou muito contente com a iniciativa da Mesa da Câmara, que representa toda a Câmara, numa homenagem rara. Não foi um Vereador que propôs, foi a Casa inteira que propôs, e houve até disputa de quem falaria nesta tribuna, porque o “Embaixador” seria homenageado.

Eu poderia dizer as qualidades dele, mas vocês o conhecem melhor, vocês talvez me dissessem coisas que, nos vinte anos em que o conheço e considero amigo, eu não saberia dizer. Então, não vou fazer isso, mas vou dizer apenas uma coisa: eu fui Prefeito por 999 dias, e acho que não fui um mau Prefeito, mas tenho absoluta certeza de que se eu tivesse na Câmara um representante igual ao Adaucto Vasconcelos, eu teria me saído muito melhor. Prefeito Olívio Dutra, pode ter certeza absoluta de que muitas coisas aconteceram e outras deixaram de acontecer neste Plenário em razão da diplomacia do nosso “Embaixador” Adaucto Vasconcelos, seu representante aqui, e que hoje a Casa e os amigos que puderam estão dizendo a ele: muito obrigado. Que continue com o mesmo entusiasmo, a mesma sinceridade e a mesma lealdade. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Lauro Hagemann, que falará pela Liderança do PCB.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Presidente Antonio Hohlfeldt, Srª Jane Vasconcelos, esposa do nosso Homenageado, Prefeito Olívio Dutra, Vice-Prefeito Tarso Genro, meu companheiro Jornalista Antonio Carlos Porto, representando a ARI mas, mais do que isso, representando o primo do Homenageado, Srs. Vereadores, Srs. Secretários, Senhoras e Senhores, camarada Adaucto, quem convive com o Adaucto nesta Casa e conviveu antes sabe as razões desta homenagem.

Esta figura de jornalista que é o leva-e-traz do Executivo e do Legislativo e que já teve, em outras ocasiões, outro nome, agora é o “Embaixador”; antes, era o espião do Prefeito. Hoje foi promovido. E justamente, assim como disse o Ver. Dib, muita coisa deixou de acontecer neste Plenário por causa da interferência do Adaucto. E acho que é por causa da sua formação profissional, que é a nossa, que produziu esse tipo excepcional de homem público, um tipo hoje cada vez mais raro, porque o Adaucto entende de tudo e que só – desculpem a ousadia e pretensão – os jornalistas, aqueles velhos jornalistas são capazes de fazer, porque nesta Casa se precisava exatamente disso, dessa compreensão, dessa mediação da vida que é a síntese do nosso trabalho.

Eu não devo me estender, Adaucto. Nós poderíamos ficar aqui falando muito tempo, de várias coisas, porque nós chegamos a um determinado ponto da existência em que muitas coisas nos são permitidas e até impostas. E tu, como muitos outros, já serviste de agulha a muita linha ordinária. Então, nesta hora, neste dia – vejo o olhar do Ver. Gert Schinke, teu conterrâneo, que me pediu para falar em nome dele –, nesta hora, certas confidências são permitidas e até são necessárias, porque a gente “já dobrou o Cabo da Boa Esperança”. É preciso deixar algum rastro nesta vida, nesta Cidade. Certas veleidades já não nos são permitidas pelo abatimento do tempo, certos estímulos não recebem reações instantâneas, pelo tempo passado.

Mas quero dizer para os que me ouvem que quando chamei o Adaucto de camarada foi por uma razão muito especial. Um dia desses, quando já tínhamos decidido homenageá-lo, eu conversava com o Adaucto, sempre naquele cantinho, e queria saber alguma coisa diferente do que seria dito aqui hoje, como já foi dito pelos Vereadores João Dib, Clovis Ilgenfritz, Wilson Santos e Airto Ferronato e pelos que ainda virão. Para não ficarmos no lugar comum, conversávamos sobre a vida do Adaucto. E lá pelas tantas, no meio da conversa, ele me disse uma frase que me gravou profundamente. Todos vão perguntar de todas as excelências que foram ditas do Adaucto, toda a sua trajetória, a sua vida, a sua dedicação, teriam que ter algum motivo, isso não se faz de graça. Pois o motivo que eu achei, ele me disse lá no meio da conversa: “Uma das minhas grandes paixões é o PCB”. Não estou fazendo uma inconfidência exagerada nem desautorizada; tive a pachorra de perguntar ao Adaucto se ele me autorizaria, eventualmente, a dizer isso. Ele, naquele jeitão modesto, não disse nem que sim nem que não, mas eu estou dizendo!

Hoje, Adaucto, o PCB está aí, esfarrapado mas vivo, e acho que juntos estamos contribuindo para alguma coisa nesta Cidade, senão não haveria esta homenagem com tão grande assistência. Acho que aqui pode ficar essa revelação: o camarada Adaucto, durante toda a sua vida, meio por baixo do pano, tinha uma bandeira política, e em nome dela é que eu presumo que tenha feito todo esse rebuliço nesta Cidade. Adaucto, a tua atuação como jornalista, até como político sem mandato, é extremamente útil à vida desta Cidade, neste momento. Só podemos augurar que a tua vida continue por muito tempo ainda, para que possamos privar da tua companhia nesta atividade. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Ervino Besson, que falará em nome da Bancada do PDT.

 

O SR. ERVINO BESSON: Exmo Sr. Ver. Antonio Hohlfeldt, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Exmo Sr. Adaucto Vasconcelos, nosso Homenageado, Exma Srª Jane Vasconcelos, esposa do nosso Homenageado, Srs. Secretários, Srs. Vereadores, Senhores funcionários, Senhoras e Senhores, meu estimado e querido amigo e irmão Adaucto Vasconcelos, tudo que ouvimos, o que foi colocado nesta tribuna é mais do que uma prova do que o Senhor representa para este povo, para esta Cidade. O Ver. Airto Ferronato colocou muito bem: aprendemos muito, e como aprendemos, com o Senhor.

Um certo dia, dirigi-me ao Presidente e perguntei a ela a possibilidade de eu entrar com um Projeto para lhe conceder o Título de Cidadão da nossa Cidade. E o Presidente me disse: “Chegou atrasado, Ervino; já tenho uma lista de pedidos, a maioria dos Vereadores já me solicitaram”. Mas a inteligência e a transparência do Presidente  resolveu que a Mesa entrasse em nome de todos os Vereadores para lhe entregar este Título de Cidadão de Porto Alegre.

Estamos nervosos, é claro. Já vi gente muito mais experiente do que eu assomar a esta tribuna emocionado, e nós, que somos de um primeiro mandato, claro que estamos extremamente emocionados. Escrevi alguma coisa, e vou ler neste momento, e com muita honra eu falo em nome da minha Bancada, o PDT.

Tantos eram os Vereadores que queriam falar no dia de hoje que, até, em Questão de Ordem, solicitei à Mesa que quebrasse o protocolo e deixasse que todos os Vereadores se manifestassem. E a minha Bancada concedeu-me esta honraria de poder falar em seu nome.

(Lê.): “É com profundo prazer e até mesmo imenso orgulho que participo dos trabalhos do dia de hoje. O ato de homenagearmos pessoas, entidades, instituições públicas ou privadas devido aos serviços prestados à comunidade porto-alegrense é sempre motivo de alegria e satisfação. Mas a pessoa que é a razão desta homenagem, do reconhecimento por parte de todos nós, sejamos nós Vereadores, sejamos nós funcionários desta Casa, sejamos nós cidadãos porto-alegrenses. Esta homenagem é o reconhecimento do trabalho executado nas últimas décadas em prol da nossa Cidade, pela pessoa do Sr. Adaucto Vasconcelos.

Em meu breve discurso, tentarei enfatizar dois aspectos que me chamaram a atenção na trajetória de vida deste homem íntegro, singelo e trabalhador, quais sejam: os aspectos político e pessoal, que se combinaram de tal forma a nos permitir conviver com a riqueza humana no seu esplendor máximo, numa época tão difícil de encontrarmos cidadãos conscientes e praticantes de atos em prol da comunidade, atos esses desprovidos de segundas intenções.

Saliento, primeiramente, o aspecto unificador e integralizador da prática de Adaucto Vasconcelos na sua ação junto ao Poder Público. Um homem que se posicionou acima dos Partidos, acima das partes, para poder mirar no todo, na comunidade à qual se dispôs servir; que sempre se valeu da busca do atendimento para gerar a unidade, pela não fragmentação. Num momento tão difícil de nossa história nacional, encontrar homens com tais características, com tal ideal, com tal prática é por demais importante, revigorante. Primeiro, porque nos faz crer na viabilidade de nossos sonhos para que esta Nação consiga superar a grave crise que atravessa. Adaucto Vasconcelos é um homem que, de seu lugar, nos mostra uma luz que pode nos auxiliar a nessa caminhada.

Em segundo, nos faz ver que, se é verdade que as benesses do poder podem atuar de forma incisiva sobre as fraquezas de quem o conquista – e nossa história, nas últimas duas décadas e meia, evidencia isso –, também nos faz ver, pelo seu exemplo, que apesar de seu estreito laço com o poder, é digno de respeito do todos nós. Isso é algo que revitaliza a crença de que é possível o homem público brasileiro respaldar-se em seus ideais, em seu amor pela Nação e em sua consciência para ser fiel e digno da confiança depositada pela população, independente de ter sido ele eleito, no cumprimento de suas tarefas, no cargo que exerce. Adaucto, verdadeiramente te reconheço como um exemplo a ser seguido, como um dos poucos homens que junto ao Poder Público colocou o todo acima e à frente das partes.

Por outro lado, mas que também mostra a sua força interior, e de que como pessoa enfrente dificuldades orgânicas, com todos os matizes de sofrimento pessoal na guerra solitária e silenciosa que vê ser travada em seu próprio organismo contra a doença. E que apesar de todas as dores físicas, de todos os mal-estares, este homem mantém-se em seu posto, a serviço de nossa comunidade.

Adaucto, te agradeço em nome desta Casa, dos Vereadores que aqui já trabalharam, te agradeço em nome dos Vereadores que aqui trabalham, bem como em nome dos futuros Vereadores desta Casa, pois tenho consciência do teu papel, da tua imensa contribuição em benefício desta Cidade.

E em público, rogo a Deus que consigas em breve encontrar junto à medicina um tratamento eficaz, que elimine ou que, no mínimo, minimize as dores causadas por essa doença, para poderes desfrutar das bênçãos da vida junto à tua família, bem como junto à comunidade porto-alegrense, que reconhece a tua importância e agradece o teu trabalho a nós dedicado ao longo de tantos anos. Há homens que se tornam cidadãos eméritos de Porto Alegre. Mas há homens que, pelas suas histórias de vida, merecem de forma muito especial. Tu és um destes poucos.

Adaucto, te agradeço por seres o que és. Adaucto, te agradeço por teres feito o que fizeste. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Passamos a palavra a um dos nossos Vereadores, que tem uma ilustração literária que se dispôs a fazer aqui, agora. Uma homenagem muito especial ao companheiro Adaucto. Eu queria chamar agora o Ver. José Valdir, que vai apresentar uma trova improvisada.

Ver. José Valdir. (Palmas.)

 

O SR. JOSÉ VALDIR: “O Adaucto é jornalista de muito talento e ciência, o Brasil de Sul a Norte já descreveu com competência. Mas a saudade é algo sério, e trouxe de volta o gaudério, aos rincões dessa querência. Foi militante de esquerda, que nunca abandonou posição; não perdia jantar de gala, nem tampouco revolução. Por combater o Estado Novo, o Adaucto, homem do povo, foi parar numa prisão. Era fã do velho Prestes, nos tempos de mocidade; depois, veio um movimento chamado Legalidade, e o Adaucto se fez presente, e resistiu bravamente, defendendo a liberdade. Da resistência no Palácio, do Dilamar foi companheiro; até o Dib se encanta com este seu jeito matreiro, que trabalha sem dar na vista, nuca baixou a crista, nem para o Prefeito Loureiro. Pois o competente Adaucto, que é o nosso ‘Embaixador’, já encomendou o casaco novo, que está causando espanto e horror, cheio de bolso escondido, só para não perder os pedidos e os recados de Vereador. Quem quiser fazer fofoca, não vai ter facilidade, pois às 7 da manhã, com toda a fidelidade, o Adaucto relata tudo, e o Olívio ouve mudo, o repórter da Cidade. O Adaucto, freqüentador do Chalé, boêmio conhecedor da Cidade, que derrubou um Presidente, baixou um pau em um alcaide, que causou inveja geral, por ser cliente especial, da Casa de Adelaide. Imagina o Adaucto, com o seu jeitinho, entrando no Céu: - Boa tarde, com licença. - Entra, tchê, a casa é tua. Mas logo São Pedro repensa: - Entra, mas te comporta; senão, eu te mostro a porta, e te cancelo a presença. Este velho não me engana, eu conheço o seu segredo; que o Céu espere sentado, porque o Adaucto não tem medo. Enfrenta a luta, a refrega; este velho não se entrega, e nem vai morrer tão cedo. (Palmas.) E pra não espichar mais meus versos, só uma frase eu te digo: tens a firmeza dos homens de aço, e a ternura de um abrigo; tu és a nossa fortaleza, nossa esperança e certeza; meu querido, meu velho, meu amigo”. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre, companheiro Olívio Dutra.

 

O SR. OLÍVIO DUTRA: Sr. Presidente do Legislativo Municipal, companheiro Antonio Hohlfeldt, companheiro Tarso Genro, Vice-Prefeito, companheiro Antonio Porto, primo do nosso Homenageado, representando aqui a ARI, Dona Jane Vasconcelos, esposa do nosso Homenageado, companheiro e camarada Adaucto Porto Vasconcelos, Vereadores, familiares do Homenageado, companheiros trabalhadores da Casa, Senhoras e Senhores, esta homenagem que a Câmara de Vereadores presta a uma figura do quotidiano desta Casa, do quotidiano do Executivo e da vida de Porto Alegre é mais do que merecida ao Adaucto. Mas ela também se dirige às relações harmoniosas, mesmo que difíceis e muitas vezes contraditórias, no exercício da democracia, entre Legislativo e Executivo.

O Adaucto, na verdade, representa a política que a Administração Popular, sob a responsabilidade do PT, do PCB e do PSB, busca realizar com o nosso Legislativo. Entendemos que além da nossa Bancada, dos nossos companheiros Vereadores que estão aqui no quotidiano da Casa, nas disputas e Projetos, deveríamos ter, como temos, uma figura que sintetizasse o trabalho e as preocupações que se desenvolvem lá no Executivo e que interessam ser aqui debatidas. E que pudesse, também, com a sua vivência, com a sua riqueza, traduzir para o Executivo o quotidiano desta Casa, não apenas nos seus aspectos objetivos de disputa, mas também nos aspectos subjetivos e humanos das relações políticas. Então, nós estamos entendendo esta homenagem como também uma homenagem a esse tipo de relação entre dois Poderes indispensáveis da democracia e necessários para o bom governo da Cidade. O Adaucto tem sido essa síntese, esse elo permanente, mais do que, talvez, às vezes, o próprio Prefeito ou mais do que, talvez, os nossos líderes das bancadas de governo, ou mais do que, talvez, alguns de nossos companheiros do Executivo. O Adaucto, aqui no quotidiano da Casa, tem traduzido e sintetizado os desejos do Poder Público Municipal, da Administração Popular, de bem dirigir as coisas, numa relação harmoniosa com o Legislativo.

Mas o Adaucto é companheiro e camarada, e é, fundamentalmente, uma figura com quem a gente sempre está a aprender. Mas é também um jovem que sempre está procurando aprender mais. Eu, na minha vida, encontrei pessoas que na aparência parecem mais velhas do que a gente, mas que no esforço, na dedicação, no trabalho são muito mais jovens. O Adaucto é uma delas. Um outro, o velho e jovem Apolônio de Carvalho, que eu achava que era daqueles velhos companheiros de luta que não se encontravam mais por aí. Pois tive o prazer e a honra de conviver com o Adaucto ao mesmo tempo em que convivo com o Apolônio a distância. Aprendi com o Apolônio muitas coisas na luta pela construção do PT e na defesa do socialismo, da liberdade. E estou reforçando esse aprendizado no quotidiano com o companheiro Adaucto, quase da mesma geração que o Apolônio.

Então, são velhos jovens: velhos na idade, talvez; jovens, permanentemente, nas suas convicções, nas suas determinações. O Adaucto é aquele companheiro que sabe ser firme, sabe ser inflexível, radical, sem ser sectário. Traz para o quotidiano da sua ação a ética na política, e traz para o quotidiano das relações e práticas políticas o aprofundamento humano. É um cidadão, na verdadeira acepção da palavra.

Por isso, acho que ele, nos versos lá das Missões, é às vezes duro, às vezes macio; às vezes com turbulência, às vezes com calma de rio, desses que embalam estrelas em claras noites de estio.

A Administração Popular é traduzida aqui nesta Casa, sintética mas ricamente, pelo companheiro Adaucto, o que não é uma tarefa fácil, imagino, mas a experiência e a vivência do Adaucto trazem enormes benefícios para a Cidade. Acho que é isso que se homenageia. Adaucto, nós, todos os dias, pela manhã, aprendemos contigo. Sei que tu também aprendes na relação aqui nesta Casa, com cada um dos Vereadores de cada uma das Bancadas, conosco lá. É esta tua riqueza de aprender sempre, ensinando de forma natural como os homens devem se relacionar, como as instituições devem se relacionar, buscando o interesse maior e demarcando, balizando que é possível fazermos política com ética, que é possível, nas relações contraditórias e antagônicas, construirmos, também, a nova sociedade.

O nosso abraço, companheiro Adaucto, e longa vida para ti, para os teus amigos e para as nossas relações como pessoas. E as relações, contigo, entre Legislativo e Executivo, permanentemente se aperfeiçoando. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Senhoras e Senhores, Srs. Vereadores, nós gostaríamos de convidar todos, agora, em pé, para assistirem à entrega formal do Título de Cidadão de Porto Alegre ao nosso Homenageado. Pediria ao Sr. Prefeito Municipal que passasse às mãos do companheiro Adaucto Porto Vasconcelos o Diploma que concede o Título Honorífico de Cidadão Emérito, pela valiosa contribuição do seu trabalho em prol do engrandecimento da Cidade de Porto Alegre.

 

(O Sr. Prefeito Municipal procede à entrega do Diploma.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao nosso Homenageado, Adaucto Porto Vasconcelos, que fará uso da palavra aqui mesmo, no seu lugar, porque é um lugar raro que ele ocupa, porque ele está sempre no meio do Plenário. Então, a palavra com o Adaucto.

 

O SR. ADAUCTO PORTO VASCONCELOS: Em primeiro lugar, os meus agradecimentos aos Srs. Vereadores e ao Sr. Prefeito Municipal pelas referências elogiosas à minha pessoa. Desnecessário dizer que estou profundamente emocionado.

Meu Presidente, Ver. Antonio Hohlfeldt, Prefeito Olívio Dutra, Vice-Prefeito Tarso Genro, Antonio Carlos Porto, representante da ARI, minha querida companheira, meus filhos, meus netos, meus amigos de Estrela, Norberto Sommer, Dalto Azevedo, Vereadores de todas as Bancadas, que me honraram com o Título de Cidadão Emérito desta Cidade, quando eu soube da homenagem que os amigos Vereadores estavam preparando, eu fui dominado por sentimentos contraditórios. Nunca em minha vida persegui títulos honoríficos ou galardões pessoais. Digo isso sem nenhuma soberba, auto-suficiência ou orgulho exagerado. E os amigos que me conhecem há mais tempo – e tantos deles estão aqui – sabem que estou sendo sincero.

Reconheço que esse tipo de homenagem tem um enorme valor, um grande valor, mas minha forma de encarar a vida privilegia outras coisas, que é viver a vida intensamente, ser generoso com as pessoas e lutar para construir uma sociedade mais justa e um País melhor. Devo confessar, também, que em um breve acesso de autocomiseração, cheguei a imaginar, num certo momento, que a concessão do Título se devia muito mais aos problemas de saúde que tenho enfrentado nos últimos anos que propriamente por méritos pessoais. Mas não, meus amigos, é mais adequado encontrar razões para esta homenagem na relação política qualificada que todos nós temos mantido nesta Casa.

Estou aqui nesta Câmara de Vereadores em nome de um projeto político, em nome da Administração Popular. Tenho me esforçado no limite das minhas condições; algumas vezes, superando até mesmo essas limitações, para ajudar a consolidar esse projeto político. Todas as minhas iniciativas nesta Casa, friso bem, seguem rigorosamente as orientações do Prefeito Olívio Dutra, a começar pelo respeito ao Legislativo Municipal, ao trabalho de todos os Srs. Vereadores e às divergências políticas que existem e são necessárias. Portanto, se o Título que estou recebendo é devido à minha conduta nesta Casa, então este Título deve ser interpretado como uma homenagem ao Governo, ao Executivo a que sirvo com imenso prazer, à forma como a Administração Popular se relaciona com a Câmara Municipal: com lealdade, com franqueza e com transparência. Eu me orgulho profundamente de estar recebendo o Título de Cidadão Emérito de Porto Alegre. Normalmente, Sessões como esta, como o próprio nome diz, se revestem de um clima solene, formal, de absoluta reverência. Para os amigos que me conhecem, não me sinto bem sendo o centro dos acontecimentos. Por mais honrosa que seja esta homenagem, a única forma de suportar o formalismo, de um lado, é a imensa carga emocional; de outro, é tornar esta Sessão leve e descontraída.

Fui jornalista num período romântico, o nosso ganha-pão, a nossa cachaça, o nosso lazer e a nossa trincheira. Tive privilégio de conviver com personalidades ilustres e anônimas de grande sabedoria: políticos, escritores, artistas, operários e boêmios. Aprendi muito com eles. Estive presente, participei de episódios importantes, dramáticos e pitorescos na história recente do País, e gostaria de contar alguns desses episódios: uma vez em que Brizola foi parlamentarista; as implicâncias do saudoso Prefeito Loureiro da Silva; o plano de morte a que assisti no Senado Federal; o dia em que embriaguei vários oficiais superiores do Exército; os momentos tensos da Legalidade; o dia em que salvamos dezenas de parlamentares da prisão; e quando derrubamos da cadeira um Presidente da República recém empossado.

Nasci em Estrela e passei a infância ouvindo as proezas da Coluna Prestes, contadas pelo meu velho pai, que participou ativamente de todo o ciclo revolucionário dos anos 1920, 1930. Com 15 anos, já colava cartazes pedindo anistia aos presos políticos do Estado Novo, Prestes entre eles. Pouco depois, surpreso, menino ainda, pintando a cruz suástica do Delegado de Polícia de Santo Ângelo, foi a primeira de uma série de prisões ao longo de toda a minha vida.

Em 1947, cheguei a Porto Alegre. Hospedei-me numa pensão na Rua dos Andradas, defronte à antiga Praça da Forca, ali no fim da Rua da Praia, e logo depois eu estava fazendo a cobertura da Constituinte Estadual em 1947, como correspondente de jornais do interior. No Plenário da Assembléia estavam políticos como Leonel Brizola, João Goulart, Fernando Ferrari, Nestor Ioschpe, Mem de Sá, Daniel Krieger, Francisco Brochado da Rocha, Dionélio Machado, Otto Alcides Olwailer e tantos outros. Era, como vocês podem imaginar, uma disputa ferrenha por cada proposta, cada artigo, cada palavra, até que, graças a uma aliança que reuniu o velho PTB, o Partido Libertador e o Partido Comunista, a Assembléia Constituinte aprovou o parlamentarismo. Foi uma Sessão histórica, com galerias lotadas e um festival de artifícios regimentais. Faltava apenas um voto para a aprovação da proposta parlamentarista, que tinha no jovem Deputado Leonel Brizola um de seus mais ardorosos defensores. Parlamentares do PTB tiveram que buscar em casa Deputados para garantir a vitória. Este Deputado chegou e fez uma declaração: “Voto no parlamentarismo pelo bem do Rio Grande e do Brasil”. O nome dele: João Goulart. É claro que essa votação serviu muito mais para impingir uma derrota política ao então Governador Walter Jobim, do PSB. O parlamentarismo jamais foi implantado, já que a Constituição Federal definiu e optou pelo presidencialismo, e os Estados definiram-se pela Lei Maior.

Quatorze anos depois, eu estava em Montevidéu, tendo Tancredo Neves convencido João Goulart a aceitar o parlamentarismo. Era condição imposta pelos Ministros militares para permitir a posse de Jango na Presidência da República após a renúncia de Jânio Quadros. E o maior oponente do parlamentarismo era justamente Leonel Brizola, que havia liderado com firmeza o movimento pela Legalidade. Quando o País começa a debater novamente o sistema de governo, nunca é demais lembrar essas lições da história.

Em 1959, era eu o responsável pela editoria de Cidade do jornal Última Hora, recém fundado em Porto Alegre. Comecei a fazer a cobertura das atividades da Prefeitura e da Câmara Municipal em 1959, e assinava uma coluna com o título Cidade Aflita. A “Última Hora” fazia oposição ao Prefeito Loureiro da Silva. Só de implicância, Ver. Dib, passei a tratá-lo na coluna como Prefeito José da Silva. Ele reclamava, mas eu explicava que era comum tratar as pessoas pelo primeiro e último nomes, e como havia uma desavença muito grande entre Loureiro e Brizola, eu implicava mais ainda com o Loureiro, e dizia: o Governador não se importa que lhe chame de Leonel Brizola. Uma vez, denunciei um Secretário Municipal por corrupção e fui denunciado. À época, os crimes de imprensa - sabe bem o Advogado de Tarso Genro - iam a júri, jurados semelhantes ao júri popular. E eu inaugurei o novo Fórum da Cidade, fui o primeiro réu do novo Fórum da Praça da Matriz. O assistente de acusação era ninguém menos do que o então Deputado Estadual Paulo Brossard de Souza Pinto, que se dirigia a mim da seguinte forma: “O réu aqui presente, notório comunista...” (Risos.) Durante o processo, Brossard sugeriu ao Advogado da “Última Hora”, Manoel Augusto de Godoy Bezerra, que eu publicasse um desmentido e que, em três linhas, dissesse que havia um equívoco na informação. Respondi-lhe na audiência: “Vou para a cadeia, mas não desminto!”, e respondi com o aval do saudoso Samuel Weiner. Absolvido pelos jurados, fui condenado pelo Supremo Tribunal Federal, com direito a sursis, e, tempos depois, recebi um indulto natalino do Presidente João Goulart, tendo acertado o meu nome a toda a ordem.

Por ironia do destino, meses mais tarde, Loureiro me chamou à Prefeitura - e este detalhe o Ver. Dib talvez lembre -, e me pediu ajuda, sendo eu o seu adversário político, com todo o respeito ao saudoso Prefeito Loureiro da Silva, e me pediu ajuda para resolver um problema interno do Governo. Determinado Secretário pretendia demitir-se no dia seguinte e ameaçava jogar lama no ventilador contra dois outros Secretários Municipais. Se eu resolvesse o problema, Loureiro me prometia um furo nacional, furo jornalístico. À época, tramitavam projetos importantes na Câmara Municipal, e esse Secretário, que ameaçava a conexão, tinha muito bom trânsito entre os Vereadores da própria oposição. A demissão poderia originar uma crise política e prejudicar a aprovação desses projetos. Eu disse ao Prefeito: “Dr. Loureiro, o Senhor não está me pedindo um favor, o Senhor está me dando uma notícia, é a primeira página do meu jornal: A crise política do seu Governo”. Loureiro encarou-me e respondeu: “Não, você não vai fazer isso, eu confio no seu encanto pela Cidade”. Eu desci, conversei com o Secretário e o convenci a não renunciar. Os projetos foram aprovados e as obras iniciadas. Neste episódio, os interesses da Cidade falaram mais alto do que os interesses políticos do repórter, afinal eu era oposição ao Loureiro. Dias depois, cobrei o furo jornalístico. Era véspera de campanha presidencial, da disputa entre Jânio Quadros e o Marechal Lott, Brizola já tinha se decidido por Lott, mas o Loureiro estava em cima do muro, porque havia os empréstimos encaminhados junto ao Ministério da Fazenda. Cobrado, Loureiro não titubeou e disse: “Você acha que vou votar nesse Marechal de ‘M’?”

Sobre a Legalidade, há muito o que contar. Durante aqueles dias dramáticos, nós não saímos de dentro do Palácio Piratini, que estava sob ameaça de bombardeio, e ninguém sabia o que ia ocorrer. Houve histórias engraçadíssimas, nós éramos uma mistura de jornalistas e combatentes, alguns com revólver na cintura. Estávamos lá, o querido amigo Lauro Hagemann, locutor da Cadeia da Legalidade, os falecidos Tarso de Castro e Josué Guimarães, o Flávio Tavares, o Dilamar Machado e tantos outros. Fui designado para ir a Montevidéu acompanhar a reunião do Tancredo Neves, que estava negociando o parlamentarismo com o João Goulart. Voltei no mesmo avião do Jango, e ainda havia muitas dúvidas sobre a posição dos Ministros militares. Havia boatos de que o avião presidencial seria abatido no ar por caças da Aeronáutica. Por essa razão, fizemos um vôo cego até Porto Alegre, todas as luzes do avião estavam apagadas. Quando chegamos, Jango foi diretamente conversar com Brizola, que estava inconformado com o parlamentarismo. Depois disso, as relações entre eles nunca mais foram as mesmas.

Logo após, mudei-me para Brasília, para fazer a cobertura do Congresso Nacional. Minha estréia foi decepcionante, frustrou as expectativas. Havia apenas um orador desconhecido fazendo um discurso inflamado na tribuna e um único parlamentar no Plenário. Era o Deputado e Marechal Juarez Távora, ocupado em responder cartas de correligionários. No dia seguinte, um outro parlamentar subiu à tribuna e disse: “Sr. Presidente, Srs. Deputados, dou por lido o meu discurso”, e passou as folhas à taquigrafia e ao serviço de imprensa. Alguns jornais, com base no release que foi distribuído, disseram que tal Deputado fizera um discurso brilhante, sendo aplaudidíssimo etc.

De Brasília, acompanhei momentos importantes da política nacional, como o plebiscito que derrotou o parlamentarismo, a Revolta dos Sargentos e um duelo a bala em pleno Senado Federal. O recém empossado Senador Arnon de Mello, eleito por Alagoas, faria sua estréia na tribuna. Outro Senador, Silvestre Péricles de Góis Monteiro, também de Alagoas, garantia aos jornalistas que Arnon não discursaria: “Ladrão não representa Alagoas, ladrão não fala em nome de Alagoas”. Havia um clima muito tenso, já que existia uma tradição de violência entre as famílias Mello e Góis Monteiro, que disputavam o poder político no Estado de Alagoas. No dia do discurso, Arnon de Mello subiu à tribuna e começou: “Sr. Presidente, Srs. Senadores...”. No fundo do Plenário, Góis Monteiro sacou do revólver. Arnon de Mello puxou a pistola que trazia sob o paletó e acionou o gatilho duas vezes. Um tiro acertou a abóbada do Plenário; o outro matou o Senador Kairala de Kairala, do Acre, que nada tinha a ver com a disputa. No meio da confusão, Góis Monteiro esgueirou-se por baixo das mesas e surgiu na frente da tribuna com o revólver apontado para Arnon de Mello, que teria sido morto, não fosse a intervenção providencial do Senador João Agripino, do Rio Grande do Norte. O Presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, ordenou a prisão dos dois duelistas. Na saída, escoltado pelos seguranças do Senado, Góis Monteiro, às gargalhadas, ainda afirmou: “Eu disse que ladrão não falava em nome de Alagoas, e não falou”. Os dois ficaram presos durante seis meses. O Senador Arnon de Mello, já falecido, vem a ser pai do atual Presidente da República, Fernando Collor de Mello.

Veio o golpe de 1964. Chamo de golpe, com todo o respeito democrático a Vereadores desta Casa que apoiaram o movimento militar e possam discordar desse termo. Havia uma insatisfação dos militares com os rumos do Governo de João Goulart, com as reformas de base, o comício da Central do Brasil e a inflação, que atingia o índice “alarmante” de 60% ao ano. Deflagrado o golpe, a partir da movimentação do General Olípio Mourão Filho, em Minas, o Presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, decretou a vacância na Presidência da República, numa flagrante ilegalidade, já que era público e notório que o Presidente João Goulart estava no Rio Grande do Sul, portanto, em território brasileiro. Naquele dia, Tancredo Neves, que por tradição era um moderado, fez o discurso mais inflamado de sua vida, denunciando a trama. Mas não adiantou, o Deputado Ranieri Mazzilli, Presidente da Câmara, foi empossado na Presidência da República. Havia uma confusão de políticos e jornalistas em volta de Mazzilli quando ele prestou juramento. Ao sentar, já investido das funções de Presidente da República, um de nós puxou a cadeira e ele levou um sonoro tombo. Pelo menos no sentido literal, nós derrubamos um Presidente imposto pelo golpe militar.

Quando foi editado o Ato Institucional I, saiu a lista de cassações, encabeçada por Luiz Carlos Prestes, numa espécie de simbologia do conteúdo político do golpe. Fomos nós jornalistas que salvamos da prisão dezenas de parlamentares, com o Congresso cercado por tropas do Exército. Havíamos feito um esquema com a Embaixada da Iugoslávia para abrigar esses parlamentares. Eu ajudei a salvar o Alimo Afonso e outros Deputados menos conhecidos.

A partir daí, comecei a me esconder. Certo dia, chegou às minhas mãos, através de um emissário gaúcho, uma correspondência que eu deveria entregar ao então líder do PTB, Deputado Doutel de Andrade, que não havia sido cassado na primeira leva. Mas ele estava refugiado. Busquei contato com ele durante mais ou menos um mês, até que consegui localizá-lo. Doutel pegou a correspondência, leu e se dirigiu à Câmara Federal. Foi quando tomei conhecimento do conteúdo da mensagem: era o manifesto do ex-Presidente João Goulart ao povo brasileiro, pedindo a mobilização popular contra o golpe. Doutel foi cassado no dia seguinte. Quer dizer, eu tinha um documento daquela importância no bolso do casaco e não sabia.

Nesses dias, eu e uns amigos tínhamos esperança de que o País reagiria ao golpe, e nos preparamos para a resistência. Minha primeira tarefa foi realizar uma expropriação na despensa da Câmara, para garantir os mantimentos. Meu velho jipe, com placa de Alegrete, dirigido pela minha companheira, chegou a vergar, tal o volume de carga, que deveria ser suficiente para sustentar a resistência por certo tempo. Não durou dois dias, e cada um de nós teve que se refugiar como pôde. Caí na clandestinidade. Chamo a atenção para o fato de que não estávamos preparados.

Fui levado de olhos vendados para um esconderijo, que deveria ser ultra-secreto e seguro. Quando tiraram a venda, estava num apartamento com mais de 30 pessoas, gente telefonando, homens entrando e saindo, mulheres indo ao cabeleireiro, uma festa. Super-Quadra, habitada por militares de Brasília. Aquele era o esconderijo seguro... De lá, um amigo engenheiro me levou para Pires do Rio, uma cidadezinha de Goiás, onde trabalhei como operário na construção de uma ferrovia. Na verdade, eu deveria trabalhar no setor administrativo, e minha primeira função seria realizar uma série de demissões por contenção de despesas. É claro que não aceitei, e preferi pegar o carrinho de mão. A obra era da construtora Mendes Júnior, e, certa feita, fizeram um churrasco para várias autoridades de Brasília. Estavam lá o General Costa e Silva, então Ministro do Exército, o Marechal Juarez Távora e altas figuras das Forças Armadas. Fui designado para trabalhar de garçom. Nunca trabalhei tanto, mas nesse dia dei um porre de uísque no Costa e Silva e na alta cúpula militar. Tinha general que babava na farda, e eu, sempre solícito, enchendo os copos a toda hora. A Revolução, de porre, esquecia o subversivo.

Em 1967, mudei-me para São Paulo, ainda clandestino. Fui trabalhar de garçom num hotel de quinta categoria. Quando as coisas estavam mais ou menos normalizadas, arrisquei-me a voltar ao jornalismo, como estagiário na “Última Hora”. Imaginem eu, com quase 40 anos, trabalhando de estagiário. Ganhava muito pouco, mas sobrevivia com o apoio dos companheiros da Redação. Em São Paulo, a “Última Hora” mantinha a tradição de jornal de oposição, embora já pertencesse a Otávio Frias, que também era dono das “Folhas” e da “Gazeta Esportiva”. Todos os grupos de esquerda que faziam oposição ao regime estavam representados na Redação da “Última Hora”, e cada editorial era uma trincheira da resistência.

Posteriormente, fui promovido a Editor de Esportes, logo após o AI-5: nada mais podia fazer em termos de política, em jornal. Editor de Esportes acabava fazendo política sempre. Na época, o Presidente do Corinthians tinha a mesma função de hoje, se chamava Wadi Helou e era, também, o Presidente da ARENA de São Paulo. A “Última Hora” começou, obviamente, a fazer críticas sistemáticas ao Corinthians, ao Corinthians e ao seu Presidente, que se candidatava à reeleição no Clube. Como ele era um homem muito truculento, volta e meia agredia um jornalista; fazíamos um rodízio para ver qual o jornalista que apanharia dele naquele dia. E nós enchíamos páginas de protestos. Um belo dia, um repórter do “Estadão” escalou-se, levou um soco, e o grande circunspecto Estado de São Paulo, o “Estadão”, aderiu à campanha anti-Wadi Helou. Wadi era o símbolo do regime militar de São Paulo; era, àquela altura, o único alvo que podíamos atingir. Faltava um lance de impacto para derrotar o corintiano arenista, e o pessoal da oposição do Clube, com a nossa ajuda, da “Última Hora”, buscou o ex-Presidente Jânio Quadros, que retornava de um confinamento no Mato Grosso. Ele chegou numa Kombi, cambaleante, carregado pelos torcedores, e fez uma declaração bombástica às rádios: “Aqui estou, para derrotar o candidato dos generais”. E Wadi Helou perdeu a eleição, depois de 11 anos de mandato. Missão cumprida. Eram momentos de exceção, em que o jornalista era parte da luta política. É claro que hoje em dia, num momento de normalidade, a conduta do jornalista deve ser outra.

De São Paulo, fui ao Rio, onde convivi com nomes, como muito bem salientou o companheiro Clovis Ilgenfritz, como Nelson Rodrigues, João Saldanha, Mário Lago e tantos outros. Em 1974, recebi a missão de coordenar a abertura do jornal O Globo na Alemanha, onde permaneci por dois meses. Testemunhei, ali, o início do declínio do futebol brasileiro, que era outra das minhas paixões. Antes de começar a Copa, já havíamos constatado que a Seleção apresentava um futebol decadente perto de equipes como as da Alemanha e Holanda, e por causa disso éramos chamados de impatriotas pelos chefes militares da delegação brasileira, que apresentava um fantástico sistema de segurança, completamente desproporcional ao pequeno futebol brasileiro.

Há quatro anos, aposentado já e muito doente, recém me refazendo de uma cirurgia muito séria, fui convidado pelo querido amigo Joaquim Felizardo a ajudar na implantação da Secretaria Municipal da Cultura. E a minha missão foi, justamente, trabalhar junto aos Vereadores para consolidar a nova pasta. Além da honra de ter ajudado a criar a Secretaria da Cultura, hoje entregue à competência do amigo Pilla Vares e sua equipe, tenho a obrigação e o dever de dizer que aprendi muito trabalhando com a inteligência e a sensibilidade do Professor Felizardo, a quem a Cidade deve muito.

São lembranças que eu gostaria de passar aos amigos. Há muitas outras histórias que tenho contado nestes corredores durante esses anos de convívio. Quero também declarar, agora e aqui, o meu amor profundo por esta Cidade. Eu venho de uma Porto Alegre de passeios no Cais do Porto; de fins de semana nas praias de Ipanema e Vila Assunção; da paquera às normalistas nos mini-bares da Rua da Praia; do foguetório saído das sedes do Grêmio e do Inter lado a lado na Rua da Praia; das noites efervescentes em seus grandes cabarés, como o American Boate, o Oriente, o Maipú, o Marabá; dos bate-papos infindáveis das madrugadas no Treviso; do traguinho do meio-dia com o saudoso e querido amigo Lupicínio, na Bela Gaúcha, ao lado da Livraria do Globo; dos numerosos e muito bons jornais, disputados avidamente pela população de Porto Alegre; da velha Maria Chorona, anunciando a “Folha da Tarde” na esquina da Ladeira com a Rua da Praia; dos comícios políticos que precederam a Constituinte gaúcha de 1946; dos passeios de automóvel em marcha lenta, em torno da Praça da Alfândega, à saída das matinês; dos passeios do bonde Duque para melhor observar os prédios antigos da Rua da Praia, coisa que tento fazer ainda hoje, apesar da saudade dos bondes; do carnaval da Rua Arlindo; das greves estudantis, enfrentando a repressão, quando jogávamos bolinhas de gude e rolhas para derrubar os cavalos dos policiais da Brigada. Hoje, como integrante da Administração Popular, estamos tentando resgatar à Cidade um conceito de cidadania, resgatar o prazer do convívio entre os porto-alegrenses.

Quero testemunhar, também, meus amigos, que no momento em que se fala muito em mordomias do parlamento, esta Câmara se mantém digna e modesta em suas instalações. E mais, muito mais: contrariando o que acontece em outras capitais, bancadas de oposição, que constituem a maioria nesta Casa, que poderiam criar problemas terríveis para o Governo da Frente Popular, têm demonstrado alto espírito público. Os Vereadores de todos os Partidos têm colocado os interesses da população, da Cidade, acima de questões subalternas da má política. É evidente que temos divergências, às vezes profundas, de concepção, de projetos e de conteúdos. Mas através da negociação elevada, da busca do entendimento qualificado, essas disputas, normalmente, têm se resolvido em favor da Cidade.

Por fim, permito-me uma declaração pessoal: eu amo desesperadamente a vida, todos os Senhores sabem disso, e é uma sensação indescritível saber que isso, agora, está passando, que tudo acabará, como se um vento passasse destruindo tudo. Mas quero dizer também que vou resistir; quero dizer também que estou cada vez mais próximo do Governo e desta Câmara. Eu não estaria aqui, agora, em pé, não fosse o estímulo e a força que todos vocês têm me dado, a começar pelo Prefeito Olívio Dutra, um grande amigo, com quem converso diariamente às 7h da manhã sobre as minhas atividades na Câmara, sobre os problemas da Cidade, sobre a vida. Os companheiros e amigos Tarso Genro, Flávio Koutzii, os Secretários Municipais e Diretores de Autarquias, todos os Srs. Vereadores e os Suplentes que por aqui passam, os companheiros da Frente Popular, os funcionários da Prefeitura e desta Câmara, amigos que fazem o possível para facilitar as minhas tarefas diárias. Meus filhos, meus familiares. Meus amigos, vocês é que me mantêm em pé. Não sei se terei saúde para estar com vocês no ano que vem, talvez o Governo necessite de alguém com mais energia, mas pretendo lutar. Normalmente, lutamos para atingir objetivos, mas mesmo quando não os atingimos, ainda assim a luta terá valido a pena, nos reconforta e nos dá paz de espírito. Sempre fui um lutador, e continuarei sendo.

Por fim, quero destacar a importância, para a minha vida, da minha companheira Jane. Juntos, passamos por imensas dificuldades, principalmente durante o período da repressão política nos anos 60 e início da década de 70. Muitas vezes, foi ela quem sustentou a carga mais pesada, que foi cuidar e educar os filhos diante de um futuro incerto.

Como disse no início, quero que esta homenagem personalizada em mim tenha o sentido de celebrar uma relação civilizada e transparente entre o Executivo e o Legislativo desta Cidade. Tenho muito orgulho em integrar a Administração Popular, Prefeito Olívio Dutra, é a realização de todos os sonhos que cultivei por mais de 60 anos. E tenho orgulho dos amigos que conquistei nesta Casa, desde o seu Presidente, Antonio Hohlfeldt, até os mais humildes servidores. Muito obrigado, e desculpem se falei demais. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queria convidar o Ver. João Antônio Dib para, em nome da Mesa Diretora e de todas as Lideranças da Casa, fazer a entrega, ao Adaucto, de uma pequena lembrança. Escolhemos o Ver. João Dib exatamente por tudo que aqui foi dito, e acho que justifica. Quero convidar o Ver. Lauro Hagemann para, igualmente, comparecer aqui para entregar ao Adaucto a pequena lembrança tradicional da Casa. (Palmas.)

Queria convidar também a Sônia, nossa Diretora-Geral, e a Alceste, nossa Diretora Legislativa, que têm lembranças para entregarem ao Adaucto, em nome dos funcionários.

Eu queria apenas registrar e agradecer, formalmente, aos companheiros do Grupo de Teatro de Bonecos Boco de Molas, muito especialmente à Cristina, que fez e viveu o “Embaixador” em menos de 24 horas, que foi o tempo de que ela dispôs quando conseguimos um contato com os integrantes do Grupo. Trouxemos a Cristina para cá, o Santinho, que está aí documentando, fotografou a cara do “Embaixador”, e a Cristina confeccionou a máscara. Então, eu queria registrar esse agradecimento à Cristina, que tinha outros compromissos e não pôde ficar conosco, mas foi importante, dentro do que havíamos previsto para esta Sessão.

Queremos agradecer a presença de todos e deixamos, agora, o Adaucto entregue a vocês.

Há um último registro que chegou aqui, um telegrama para o Adaucto, dizendo: “Estou contigo e não abro. Assinado, Deus.”.

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 19h17min.)

 

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